Crônica do Pássaro de Corda

O gato da esposa desapareceu. Fez puf. Cadê o gato? Não está em lugar nenhum. Tem personagem que diz que ele se perdeu pra sempre, tem personagem que afirma que é por causa da energia da casa. E tem o poço... Quê que tem a ver o poço com o gato? Também não sei, mas tem um pássaro de corda na história também. E aí tem um conjunto de metáforas e situações estranhas, por vezes desconfortáveis, que se combinam com as histórias do personagens e tornam tudo mais confuso. Até que, aos poucos, quase tudo se encaixa. Isso, um gato, um pássaro, um poço e uns personagens bem peculiares e muito bem construídos.

Isso é tudo sobre o livro. Até.
Só joguei informações soltas. Mas olha, esse livro pra mim foi tão denso que eu acho que só consegui entender isso: muita coisas acontecendo até que, em algum momento na metade da história, eu já não sabia mais o que o cu tinha a ver com as calças. Eu sei, eu sei. O escritor é destaque por aí, tem muito renome... Acho que só não cheguei nesse nível de abstração pra entender toda a história... Não é que não gostei, é que depois de um tempo enrolando e empurrando o livro com  a barriga eu dei um basta. Li umas 500 páginas (pra mais) e parece que ainda tem muita história pra rolar. Prefiro usar meu tempo pra ler algo mais leve e que eu entenda.

Inicialmente achei a leitura arrastada, descrição, enrolação... até que entendi mais ou menos para onde o autor estava querendo levar o enredo. Pelo menos, eu achei que tinha entendido. Os capítulos iniciais funcionam como apresentações de alguns personagens, entre eles o próprio protagonista e sua esposa, Kumiko. Muitos, um bocado de gente diferente, que se assemelham muito às pessoas do nosso cotidiano, que fazem parte da nossa história, apresentam um ponto, mudam nossa vida em um detalhe mínimo e depois seguem suas próprias vidas. Um bocado de gente que vem e volta. Gente bizarra que aparece na quinquagésima página, dá oi e, se torna mais frequente que o cara que deveria ser o antagonista. (Aliás, acho que o antagonista acaba sendo o próprio personagem principal). Tem gente que aparece, e depois some, desaparece da história, mas deixa uma peça do quebra-cabeça do enredo que influencia mais tarde. Ah, e tem o Gato. Brevemente citado durante a narrativa, o gato de Kumiko torna-se um símbolo que permeia a história como um todo, mesmo não sendo o protagonista.

Será que é possível uma pessoa entender completamente a outra? Quando tentamos compreender alguém e dedicamos muito tempo e esforço sincero, até que ponto podemos nos aproximar da essência do outro? Será que sabemos mesmo a parte que realmente importa de quem acreditamos conhecer bem?

Na segunda parte do livro comecei a entender mais a história, pegar as "referências" e linkar os personagens aos pedaços da trama e confesso que comecei a gostar mais da ideia de um texto descritivo, pois consegui visualizar as cenas na minha cabeça, com todos os detalhes, e finalmente alcancei a imersão na história. Além disso, também me comovi e fiquei bem pensativa em meio às reflexões do protagonista (cujo nome nunca me lembro, mas é chamado, mais tarde, como Pássaro de Corda), quando ele se isolava, por exemplo.

Eu demorei muito para ler esse livro, muito mesmo. Talvez seja por que é enorme e por que eu estava numa rotina corrida, mas o fato do início do livro ser arrastado pode ter colaborado. Pode não, colaborou mesmo. Não é que não seja interessante, mas a forma como o escritor desenvolve o enredo aos poucos tornou muitas partes extremamente chatas. Enquanto eu ansiava por mais cenas profundas e reflexivas, eu passava por uns capítulos com "vários tudo" e uma enxurrada de abordagens diferentes. E a história muda de foco tão rápido que me deixou tontinha.

Todas as pessoas acham que um gigantesco, complexo e incrível mecanismo movimenta o mundo, mas estão enganadas. Na verdade, é o pássaro de corda que sobrevoa os quatro cantos, dá um pouquinho de corda em cada lugar, girando a pequena chave, e movimenta o mundo. O mecanismo é bem simples, como o de um brinquedo que dá corda. Basta girar a chave, mas só o pássaro de corda pode fazer isso

Pontos que o livro abordou e eu destaco, mas sem muitos comentários (fica a critério de "só pra dizer que não falei"):

  • Aspectos cotidianos e simples das pessoas ao nosso redor que não reparamos por conta da correria. 
  • Traumas e como eles modificam a vida da pessoa. 
  • Pequenos simbolismos que nos trazem esperança.
  • A gente aprende a lidar com mudanças de um jeito engraçado e sem perceber.

Não tenho certeza sobre isso, mas fica de interpretação pessoal: Crônica do Pássaro de Corda aborda depressão, aborda traumas, aborda as mudanças na vida de uma pessoa sob a perspectiva de um personagem comum que se envolve com outras realidades. Tange assuntos da guerra também, e de uma forma bem emblemática que se entranha na personalidade do personagem.

Pra terminar: Eu gostei, daria umas estrelinhas pelos personagens e pelo enredo que me deixaram refletindo por muito tempo. Mas me deixo com uns troços entalados aqui, não entendi muito bem. Ou essa história tem personagens conexos e uma história cabulosamente complexa e entrelaçada, ou o escritor viajou horrores pra escrever e só colocou um monte de coisa no texto. Li uns bons 78%, não sei se pretendo terminar. Fica por abandonado, até que eu desentale. Por enquanto fica com umas 3 estrelas e meia.

Enfim, isso não é bem uma resenha, acho que tá mais pra desabafo depois de bons meses me sentindo presa a um livro que não me proporcionou tanta imersão e diversão quanto eu esperava. Sei que falei coisas soltas, talvez tão soltas quanto os plots desse livros, mas ficou difícil pra mim explicar o que senti ao ler. Não vou dizer que não é uma leitura que valha a pena, pelo contrário, quero que mais pessoas leiam e tentem entender pra tentar me explicar haha' mas, já esteja avisado de que coisa leve não é com esse escritor. Agora eu vou lá tentar sair dessa ressaca literária com um livro de astrofísica, porque sim.

Comentários

  1. Parece interessante, não conhecia, como uma das minhas resoluções pra 2019 é ler ainda mais, vou anotar a dica.

    1x0eu.wordpress.com/

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    1. Olha, recomendo que você reserve um bom tempo e uma boa paciência pra leitura desse livro hhaha' espero que goste mais do que eu

      Até!

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  2. Olá Isadora,

    Já conhecia esse autor, mas não esse livro dele, e apesar de após ter lido a sinopse não me convencer a ler - por não ser muito o tipo de coisa que leio - sua resenha, até um pouco cômica, pode até ter me convencido a qualquer hora dar uma chance, às vezes me arrisco a ler algo que geralmente não leio, de qualquer maneira *U*

    Abraços!

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    1. Pois é. De início também achei que não fosse meu estilo, mas depois que comecei a ler tive certeza haha'
      Fico feliz e um pouco em dúvida sobre ter te convencida. Dúvida de se estou fazendo a coisa certa ao chamar mais gente pra ler esse livro, mas enfim, é sempre bom fugir um pouco da zona de conforto na leitura também.

      Até <3

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  3. Quando comecei a ler não vou mentir fiquei confusa hahaha mas depois eu entendi do que se tratava... O Murakami é conhecido pela confusão e as incógnitas que ele deixa por conta do leitor. Li dele o "minha querida Sputnik" e lembro que fiquei um pouco confusa também, mas gosto bastante da brisa dele. Acho que vou ler esse que você leu e ver no que dá.
    Amei o post, beijinhos <3

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    1. Haha é, acho que do jeito que escrevi ficou bem confuso mesmo.
      Eu diria que iria procurar esse título que comentou, mas acho que estou um pouco "traumatizada" haha' eu gostei das incógnitas também, mas acho que foi o suficiente, pelo menos por agora.

      Até <3

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  4. Eu demorei um pouco pra entender do que se tratava, mas admito que, apesar dos pontos negativos que você mencionou, a sua resenha me deixou curiosa pra conhecer a história de perto, principalmente quando você listou alguns pontos do livro.
    Não conhecia a história e muito menos o autor, mas sei lá, alguns pontos me lembrou A terra inteira e o céu infinito, não acho que tenha de fato alguma semelhança, mas lembrou.
    É muito triste quando passamos muito tempo presos em um livro e nos desapontamos com ele, espero que dê tudo certo com o livro de astrofísica!

    Um abraço!
    baudogirassol.blogspot.com

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    1. Não conhecia esse título que citou, mas vou pesquisar, o título chama bastante atenção.
      Obrigada <3

      Até!

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  5. Oi, Isa! Tudo bem?
    Entendo você no quesito "livro denso", já que tentei ler O Médico e o Monstro a uns meses atrás e simplesmente não consegui seguir em frente. É um livro pequeno, bem fininho. Pensei que fosse lê-lo em uma tacada, mas se quer cheguei a página 50.
    Por outro lado, achei a proposta do livro interessante. Despertou meu interesse.
    Espero ter a oportunidade de lê-lo algum dia.

    Um beijo e até mais!

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    1. Tudo sim, e contigo?
      Sério, não esperava que o livro que citou fosse tão denso... Vish.
      Se tiver a oportunidade, leia, mas com tempo, viu? haha' pra absorver tudinho e teorizar mil coisas sobre a história.

      Até <3

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  6. Não conhecia ainda, mas acho que irei me arriscar a ler!
    Já estou seguindo o blog!
    Beijos!
    littlelittlemoon.blogspot.com

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    1. Vale a leitura, mesmo sendo bem denso.

      Até <3

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  7. Nunca tinha ouvido falar nada sobre este autor e nem mesmo sobre o livro. Tenho medo de dar oportunidade a esse livro e me arrepender de tanta exaustão que nele contém. Apesar dos pontos negativos que você citou,eu diria que varia muito de quem lê afinal tenho certeza que deve ter tido uma boa minoria que deve ter gostado do mesmo. Fui ler um dos livros da saga HP e demorei 4 dias pra terminar de tão longo e enrolado estava a história.
    Traz a resenha do livro de astrofísica em!!!

    https://s-ueterazul.blogspot.com/

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    1. Acho que o medo sempre é um risco na leitura de qualquer livro... Concordo contigo, há opiniões e gostos diferentes. Sabe que quando li os primeiros de HP também não achei tão rápido? haha' mas ainda sim achei bem interessantes.
      Acho que vou acabar escrevendo sobre o livro de astrofísica, sim. Mas sem promessas.

      Até <3

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  8. Hoje em dia, se a leitura não é obrigatória, eu abandono o livro se não me enlaça de primeira. A vida é muito curta para ler livros ruins ou chatos hauhua

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    1. Preciso levar isso pra vida haha' porque,realmente, não vale a pena ficar gastando meu precioso tempo com isso.

      <3

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